Como tecnologias podem nos proteger de distrações

Recentemente estive em Nova York e escolhi minha hospedagem no AirBnb. Tenho como costume separar um tempo para conhecer os donos da casa, e assim o fiz. Passamos várias horas conversando sobre as redondezas e sobre a vida. Tirando os momentos que estive com os amigos que fui encontrar lá, foi a melhor parte da viagem. Não me entenda mal, a cidade é espetacular, sou completamente apaixonado pelo que ela oferece. Mas com relação a aproveitar o tempo, esse tipo de experiência com outro ser humano não tem preço.

Em dado momento da conversa, comentamos que estávamos há horas sem acessar as redes sociais e que, dentro daquele período, isso não havia feito falta. Falamos sobre como o Facebook e outras ferramentas online consomem pequenas fatias diárias da nossa vida e que talvez isso não seja saudável. Talvez.

Mas será que existe uma maneira de aproveitar esses benefícios sem ver nosso tempo se esvaindo em minutos de completa inutilidade feito moedas em caça-níquéis que a gente coloca em nossos smartphones e, a cada atualização na tela, uma puxada de alavanca?

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Claro, existem ferramentas como o Focus, SelfControl e o Freedom, que até um tempo atrás era chamado literalmente de anti-social. Todas elas ajudam a bloquear ou restringir seu acesso a essas ferramentas e vice-versa, mas será que essa é a solução?

Esse ON e OFF, esse 0 e 1?

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Toda essa sobrecarga cognitiva e quantidade de distrações pode se tornar um enorme problema, tanto do ponto de vista pessoal quanto de negócios. Lembro de uma palestra de Tristan Harris, designer e filósofo de produtos do Google (sim, isso é uma profissão), na qual ele elucida um pouco disso que estou falando, e comenta sobre as diferenças entre usar o tempo e aproveitar o tempo. Assista abaixo, com legendas em português.

Ele comenta que software, tecnologias, precisam se adaptar ao ser humano para ajudar nessa tarefa de nos proteger de distrações desnecessárias. Ele cita, por exemplo, uma possível solução de um comunicador instantâneo (ou não) que cria uma fila de mensagens e entrega o conteúdo ao destinatário assim que ele estiver disponível ou afim de receber.

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Ah, mas e se a mensagem for urgente? Bem, aí o software também precisa permitir a “intromissão”:

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Claro que isso só vai funcionar se existir uma cooperação humana com a tecnologia. Não adianta nada existir a funcionalidade e o zé mané ir lá e clicar sempre que é urgente e atrapalhar o coleguinha de forma inconveniente. Sempre tem um babaca.

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Ou seja, precisamos aliar um conceito de humanas (relações interpessoais) a soluções de exatas (desenvolvimento de software). Usabilidade e design de interfaces são áreas focadas em fazer essa união. Eu as chamo de Humatas™. Ou Exanas®.

Harris faz ainda uma proposta interessante: “Temos selos de qualidade diferenciada para alimentos sem agrotóxicos e para construções civis que possuem responsabilidade social. Por que não criar algo assim para tecnologias que otimizem relações humanas?”

O designer ainda apresentou um experimento interessante que, diante do encontro entre pessoas, perguntou quantas horas esses indivíduos consideraram bem aproveitadas. E, dessas horas, quantas vezes se sentiram interrompidos por seus smartphones ou qualquer outro tipo de notificação invasiva.

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Empresas de TI precisam passar a medir o sucesso de suas aplicações não pelo tempo gasto em frente à timeline (sim, Facebook, estou falando de você) ou apenas pelo match no aplicativo de encontros, mas pelo engajamento e quantidade de “horas positivas”, laços de relacionamento humano criados entre as partes envolvidas.

Para ser justo, já meio que estamos a caminho disso. De um mundo com notificações personalizadas, reações com base em outros tipos de sentimento e Big Data aliado à IA para aprender mais sobre o comportamento humano.

Afinal de contas, tempo é sob vários aspectos uma medida completamente relativa. Cada um de nós a percebe de maneiras diferentes. E melhores tecnologias precisam nos acompanhar nesse processo.

Já estamos vivendo este “futuro”. Fico pensando no que o futuro do futuro nos reserva.

Conta Matheus Gonçalves do tecnoblog