Fim dos endereços na internet: saiba o que isso significa em dez perguntas e respostas

Na última quinta-feira (3), o Icann – organização responsável pela distribuição de endereços IPs na internet – declarou que não há mais endereços IPs disponíveis e que era necessário haver uma mudança na tecnologia utilizada para que a web possa crescer. Para esclarecer o assunto, o UOL Tecnologia preparou algumas perguntas e respostas, explicando como o fim dos endereços IPv4 vai mudar a internet e influenciar na vida do usuário comum.

O que é IP?

O IP (ou protocolo da internet) é, basicamente, um número de identificação de um computador na internet. No caso de usuários domésticos, os provedores de acesso são os fornecedores desta identificação. As páginas da rede só são acessíveis, pois elas também têm um endereço IP.

Apesar de sempre digitarmos, por exemplo, http://www.uol.com.br para acessar a página do UOL, o navegador (programa que permite acessar conteúdos na interrnet) converte o endereço digitado por um endereço IP: http://200.221.2.45 – que é o IP do UOL.

A ideia de digitar um texto para acessar um site, em vez de um conjunto de números, surgiu para facilitar a vida do usuário. Caso isso não ocorresse, teríamos que andar com uma lista com os IPs dos sites que mais utilizamos.

Ouvi falar que acabaram os IPs disponíveis. O que isso significa?

Na semana passada, em coletiva de imprensa, o Icann anunciou que acabou o estoque mundial de IPv4 (versão 4 do protocolo IP). Os últimos endereços foram fornecidos para a região da Ásia e do Pacífico. Agora, todos os estoques estão nas mãos de órgãos regionais que administram a distribuição desses endereços.

No Brasil, segundo o Nic.br, órgão que coordena o registro de nomes de domínio, a previsão é que em 2012 acabe o estoque de IPv4 válidos no país.

A recomendação do Icann é que provedores de acesso, de conteúdo, governos e empresas, de modo geral, comecem a atualizar seus produtos e conteúdos para a tecnologia IPv6 (versão 6 do protocolo IP).

Por que acabaram os endereços disponíveis?

Não há mais IPs de versão 4 disponíveis, pois, inicialmente, a internet não foi pensada como algo comercial. Nos primórdios da rede, o fim da web era ser utilizada por militares ou para interconectar universidades, para a troca de conhecimento. Porém, após se tornar comercial – na década de 90 – cada vez mais pessoas e empresas passaram a utilizar a rede, esgotando os cerca de 4 bilhões de endereços disponíveis.

O que é um endereço IPv4? O que é um endereço IPv6?

A internet funciona com endereços IP de versão 4. Ele é composto por 32 bits e tem capacidade máxima de 4,2 bilhões de endereços (o número exato é 2 elevado a 32). Exemplo de endereço IPv4: 192.168.0.8 .

Já o IP versão 6 é composto por números hexadecimais (nesse sistema de endereçamento, além de números, entram as letras A, B, C, D, E e F). A capacidade máxima desse tipo de endereçamento é 3,4 x 1038 (o número exato é 2 elevado a 128). Exemplo de endereço IPv6: 2001:0db8::53.

Tem IPv4 e IPv6, mas não tem IPv1, IPv2, IPv3 ou IPv5?

As versões que não são utilizadas do IP (protocolo da internet) foram usadas apenas para testes. As versões mais estáveis foram a 4 (em vigência) e a 6 (próxima geração).

Quais as diferenças entre IPv4 e IPv6?

Além do fato de o sistema IPv6 ter números hexadecimais (os próximos IPs também serão compostos por letras), a principal diferença é a quantidade de endereços disponíveis. O IPv4 permite até 4 bilhões de combinações, enquanto o IPv6 disponibiliza trilhares de possibilidades a mais.

Uma das vantagens da larga disponibilidade de endereços é a implantação da chamada “internet das coisas”. “O IPv6 dá condições para que o usuário possa ter um endereço IP para cada dispositivo em sua casa. Dessa forma, por exemplo, ele poderia, facilmente, acessar informações sobre sua geladeira enquanto está no trabalho”, explicou Antonio Moreiras, coordenador de projetos do Nic.br (instituição responsável pelo registro e manutenção dos nomes de domínio).

Eu, como usuário, o que devo fazer para me preparar para essa mudança de endereçamento IP?

Absolutamente nada. O processo para o usuário comum vai ser praticamente transparente, pois boa parte dos hardwares e sistemas operacionais (distribuições Linux, Mac OS e a plataforma Windows) disponíveis já suporta o IPv6. Talvez, alguns provedores de acesso (como Telefônica, Net, etc) tenham que usar aparelhos novos para novos clientes ou trocar equipamentos já instalados.

Mesmo os novos clientes não vão precisar fazer nada diferente para, por exemplo, solicitar um serviço de banda larga em casa. Pessoas que mantêm algum tipo de site devem procurar seus provedores e verificarem qual é o procedimento para implantar a tecnologia.

O que as empresas envolvidas (provedores de acesso, conteúdo, fabricantes de hardware) devem fazer?

Provedores de acesso, de conteúdo e governos devem atualizar equipamentos e migrar seus conteúdos para IPv6.

Segundo Antônio Moreiras, as empresas já estão se movimentando para a migração de tecnologia. “Já existe um processo de migração há alguns anos, mas está tímido — até pelo fato de demandar um custo das empresas. Porém, agora com o esgotamento do IPv4, a tendência é que seja feito algo antes do término das reservas.”

De acordo com Moreiras, um terço das redes autônomas do Brasil já tem blocos de IPv6. As redes autônomas são, basicamente, compostas por empresas que detêm faixas de IP. Para ele, isso demonstra o quanto as companhias estão interessadas em fazer essa transição.

O que pode acontecer se nada for feito?

Na situação hipotética de um site migrar para IPv6 e um provedor de acesso não, o assinante do serviço de internet não conseguirá acessar esse site. O contrário também pode acontecer.

Imagine a seguinte situação: um usuário contrata um serviço de 3G (internet móvel) e já recebe um endereço IPv6. Caso ele tente acessar um site x que não suporte a tecnologia, ele não vai conseguir visualizá-lo. Ou seja, pode ser que haja ‘apagões’ causados pela incompatibilidade de tecnologias.

É possível que as duas tecnologias trabalhem juntas?

Sim, porém será necessário a criação de sistemas que consigam converter conteúdos IPv6 para conexões à internet com IPv4. E vice-versa. A tendência é que, inicialmente, ambas existam e, após um tempo, tudo vire IPv6.

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